Segunda-feira, 9 de Abril de 2012
É na rua menos direita de todas que se encontra o caminho mais óbvio para chegar até ti.
Sexta-feira, 25 de Dezembro de 2009
O vazio faz-nos desejar a perfeição, a realidade permite-nos ser feliz.
Até um dia destes.
Sexta-feira, 14 de Agosto de 2009
Onde existe um espaço intermitente no processo regular que faz passar os dias e as estações, encaixam bem os arautos que se desviam na diagonal dos ponteiros dos relógios e que, apesar de manterem toda a regularidade na passagem dos dias e das estações, conseguem dar um toque colorido (vá, com 2 ou 3 tons de cinzento que seja) a esse mesmo espaço.
Terça-feira, 21 de Abril de 2009
É confortável assumir que a velocidade de tudo o que se passa à nossa
volta é suficientemente rápida para mascarar os nossos passos em falso.
Quando tudo parar de girar o que fica são apenas espaços vazios, que
nem toda a areia de todas as praias de todos os países com mar chegaria
para encher.
Domingo, 22 de Fevereiro de 2009
Não tenho palavras, mas tenho ruas para tentar subir e chegar a algum lado.
Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2008
Vamos lá dobrar mais uma esquina...
Domingo, 14 de Dezembro de 2008
Por motivos de autosuficência das vítimas urbanas, os heróis estão fora de moda.
Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008
Antes de começar a fazer sentido, é melhor relembrar às criaturas que têm o infortúnio de aqui vir parar, que o mundo é um banco de madeira do ikea com bicho.
Quarta-feira, 12 de Setembro de 2007
Vou pegar nas chaves do teu carro e esconder o que não me apetece fazer
na mala, junto com os sapatos que lá costumas deixar. Pode ser que essas
coisas, as que não me apetecem fazer, ganhem pernas para andar.
Sexta-feira, 25 de Maio de 2007
As palavras estragam tudo. Por isso, não digas absolutamente nada, a ninguém.
Senta-te numa paragem de autocarro qualquer à espera que passe um cacilheiro
e pensa que, melhor do que percorrer uma enciclopédia à procura de espaço para aninhar
uma ideia ou duas, é preferível contar as remadas que faltam para chegar ao pé do rio,
as formigas que partilham as tuas bolachas e pesar a areia que irremediavelmente
se mete nos sapatos.
Quinta-feira, 10 de Maio de 2007
Em vez de contar as campainhas das portas da minha rua ou correr e ladrar atrás dos carros, prefiro gastar o meu tempo a pensar em ti.
Segunda-feira, 30 de Abril de 2007
Saí pela porta mais próxima e tomei o rumo que esqueci no bolso das calças.
Se estiveres do lado de fora, do lado esquerdo de qualquer coisa grande, ou
do lado direito de qualquer coisa inquietante, entro, fecho os olhos e conto até
dezanove mil.
Domingo, 25 de Fevereiro de 2007
Se inverter a solução salina que sai dos olhos e deixar de ver o céu vidrado
de incertezas, passo concerteza a outro nível de definições ligeiramente
menos mediocres do que é viver.
Sábado, 27 de Janeiro de 2007
Com a indecente vontade de mudar o mundo, declaro abertas as hostilidades contra os poderes instituidos de tudo o que existe pelo simples facto de existir. Abaixo todas as instituições, institutos e associações de coitadinhos. Se vamos ser coitadinhos, sejamos todos no recanto dos nossos lares. Se ainda os tivermos.
Quarta-feira, 24 de Janeiro de 2007
Ontem não me lembrei de construir alguma coisa de útil à sociedade.
Por isso, hoje, fui à praia buscar um bocado de areia nos sapatos para
ver se começo qualquer coisa. Tipo um estádio, um hospital ou um centro
de reciclagem de profissões falhadas. Não sei qual vai ser a dimensão, mas
penso adoptar o estilo estado novo invertido: pequeno na fachada e
grande na realidade.
Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2007
Vou puxar o travão da memória e derrapar um século ou dois para
chegar mais depressa até ti.
Terça-feira, 9 de Janeiro de 2007
Tenho a sensação que não percebo absolutamente nada do que as pessoas dizem e muito menos do que querem dizer. Fico-me pelo compromisso de
gestão diária de uma existência fraudulenta, compactuante com os desalinhados, promíscua com as ideias que não chegam a sair da minha cabeça mas combatente com os conformismos a longo prazo.
Terça-feira, 7 de Novembro de 2006
O tempo e as palavras
não passam de morfina de má qualidade.
Quarta-feira, 1 de Novembro de 2006
Neste teu mundo cabem todas as palavras que ainda não foram ditas, todos os desejos repetidos ao limite da imaginação e um saco de berlindes transparentes,
com cores que variam entre o azul dos meus dias e o sabor da tua cor.
Sexta-feira, 20 de Outubro de 2006
No meio de tantas letras, o teu nome dá-me vontade de inventar novas palavras.
Quarta-feira, 11 de Outubro de 2006
Não cresças: fica sempre com esses olhos indecifráveis de afecto e
vontade de devorar o mundo de uma vez. E, sobretudo, não aprendas a ler.
Quinta-feira, 5 de Outubro de 2006
Vou sair, esconder-me na bicicleta e fotografar esta cidade impaciente,
que tem medo que o fim de semana prolongado acabe antes de começar.
Vou sair, mas já volto.
Quinta-feira, 21 de Setembro de 2006
Apetece-me prolongar a agonia destas trinta e 3 palavras até ao limite do
possível, sem que nenhuma delas morra, mas que nenhuma, em momento
algum, diga alguma coisa que valha a pena ouvir.
Quinta-feira, 14 de Setembro de 2006
Sinto pouco pela manhã
e grito como posso
o entardecer dos dias
Quero arrancar azul do céu
para escrever no vermelho dos teus lábios
poesias
Terça-feira, 22 de Agosto de 2006
Nas repetições não premeditadas das mesmas acções existe uma certa
pureza informal, positiva, que se assemelha a um espelho sem reflexo:
quem olha directamente para ele, não vê absolutamente nada; quem fecha
os olhos ou olha para outro lado qualquer, vê o reflexo exacto da sua ausência.
Por isso, meu caro amigo, é bom que olhemos uns pelos outros.
Quinta-feira, 17 de Agosto de 2006
As palavras e os batráquios são muito parecidos: fazem muito barulho,
e não querem dizer absolutamente nada.
Sexta-feira, 4 de Agosto de 2006
O tempo passa macio e instável, como quando se anda em pé em cima
de um colchão. O colchão, por sua vez, desliza lateralmente na esquina
cortante dos ponteiros de todos os relógios do mundo.
É apenas e exactamente por isso que o tempo passa mais depressa do
que a saudade.
Sexta-feira, 21 de Julho de 2006
Entretanto, enquanto o tempo passa mas finge não acabar,
inventam-se fantasmas de pessoas que ainda não morreram.
A visão duplica os afectos e as percepções; umas sentem
aquilo que não existe para sentir; outras, sentem as marcas
cravadas na pele do que não tem imaginação para existir.
Quarta-feira, 19 de Julho de 2006
O que realmente importa não são as conversas pseudo-profundas sobre
o estado das coisas científicas ou dos amores/desamores militantes;
O que importa realmente... Se está fresca, se tem gás e se está dentro
do prazo de validade.
Sábado, 1 de Julho de 2006
Tu és um espaço premeditado de incertezas, em que tudo se passa e
nada acontece. Que tal tirares umas aulas de natação e, enquante ele
existe, mergulhares no rio que está à tua frente?